Reflexões sobre a criatividade

JARDIM SECRETO
Ivanise Meyer

Hoje eu vi o livro "Jardim Secreto" em uma papelaria, junto a ele, caixas de lápis de cor, formando uma espécie de "kit pintura".

Dei uma olhada nas figuras, e deixei-o no mesmo lugar. Embora eu goste muito de pintura, não o trouxe para casa, mas pensei em muitas coisas...

Cada pessoa adulta decide como passará suas horas de lazer, ou como costumo dizer "momentos de puro ócio." Quero deixar claro que não escrevo para criticar as pessoas que utilizam este ou qualquer livro do mesmo estilo.

Livros de colorir, revistas de banca de jornal, não são novidade. Eram coisas "para criança" com motivos infantis.

 Lembrei do que acontece com a criatividade da maioria das crianças quando iniciam na escola, especialmente, no ensino fundamental. Ela se perde. Se perde porque como há muita coisa já pronta, para quê perder tempo em criar seus próprios desenhos? Não se coloca a mão na massa, na argila, não se suja de cola, não se pinta, tudo que poderia ser linguagem, fica mudo... Emudecendo o potencial criativo de tantas crianças.


Criatividade não está relacionada com "talento". Todos somos criativos, dependendo apenas das oportunidades que temos ao longo de nossas vidas. Muitas crianças dizem "eu não sei desenhar", mas quem disse que se sabe ou não? Podemos não desenhar conforme um modelo pré-estabelecido, mas todos nós temos capacidade de nos expressar por grafismos, desenhos... Isso é humano.


Qual o valor da arte na escola? Qual é o tempo que destinamos em nosso planejamento onde nossas crianças possam criar, experimentar, produzir? E não falo apenas das artes plásticas, falo de todas as artes. Arte é uma forma de expressão individualmente coletiva.


O mundo muda tão rápido, mas muitas coisas circulam, e voltam... Um exemplo? Os livros para colorir. Nesse meu tempo de professora já vi de tudo: desde fornecer os desenhos prontos para as crianças apenas colocarem cor, até não trazer mais "modelos" e incentivar que cada um criasse o "seu" desenho. São ciclos...

Lógico que a criança também precisa experimentar colorir os desenhos feitos por outras pessoas, mas que isso não seja a única experiência artística dela. Saber o nome das cores não é suficiente, é preciso sentir as cores, perceber nuances, ver as cores pelo ambiente, nos objetos... A vida é colorida! Que ela possa escolher as cores, os efeitos, para que imprima algo de "seu" no desenho do outro. Nada de ficar indicando as cores! Deixe que veja muitas imagens coloridas e que ela escolha quais cores representam a sua interpretação.

A criança que hoje é "escrava" das ordens de um computador (seja em um celular, em um tablet, ou coisa parecida) não cria. Ela apenas segue ordens, ganha "prêmios" caso execute as ordens direitinho. E só. Criatividade, nenhuma. Talvez a criatividade seja apenas de quem criou o jogo.

Faço aqui um apelo: permitam que suas crianças sejam criativas! Incentivem, forneçam material (livros literários, papéis, lápis cera, hidrocor, tinta, cola, etc), tempo, lugar (espaço), valorizem suas produções! Que as crianças possam viver e experimentar o quanto é bom criar, fazer seus desenhos e colocar as cores que gosta.


(Acrescentei outras reflexões ao texto publicado na página do Baú de Ideias no Facebook)

Organizado por Ivanise Meyer®

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