Leitura e Resistência


LEITURA E RESISTÊNCIA
Ontem voltei ao Salão FNLIJ do Livro, se pudesse iria todos os dias, pois lá se "respira" literatura, e isso me faz um bem danado de bom!!!
No Salão posso ver de pertinho pessoas que admiro no mundo literário. Conversar, pedir um autógrafo, tirar uma foto! Ver também que são pessoas famosas em suas áreas de atuação, mas que são seres como todos nós, com suas vidas e questionamentos.
Nas duas vezes, percebi o salão "esvaziado". Menos estandes, menos editoras. Culpa da crise? Culpa do momento econômico?
O governo federal reduz drasticamente a compra de livros literários para as escolas públicas. Editoras fecham. Livros ficam nas gavetas esperando serem publicados. A produção literária nacional sente na pele os efeitos dessa soma de fatores.
Durante meu almoço (porque passo o dia todo lá), sentei à mesa onde estava Elizabeth Serra (que só conhecia "de nome"), ela me perguntou sobre as minhas compras, comentei que era professora da rede municipal... No meio de nossa conversa, ela me disse algo que ficou ecoando até agora:
- "Este é o Salão da Resistência. Ao invés de dizer que pena só estão 30 editoras, eu digo que bom, temos 30 editoras aqui!"
SALÃO DA RESISTÊNCIA. Ler é um ato de resistência. Literatura é a arte da palavra. Arte é resistência. Porque resistir é difícil, mas não é impossível. A escola é lugar de resistência, a sala de leitura é lugar de resistência, a sala de aula também... A crise está aí, ela é MUNDIAL, basta assistir ou ler bons noticiários. Chegou até aqui e temos que resistir. Continuar defendendo nossos ideais. Continuar a estudar, qualificando nossa prática. E principalmente, continuarmos a LER.
Desde que comecei em sala de aula, 1988, garimpava livros em editoras que davam "cortesia" (isso foi acabando), depois comprava livros em promoção (era o que meu dinheiro permitia). Sempre buscando bons livros para oferecer aos meus alunos que não possuíam NENHUM livro literário em casa. Sempre tive um "cantinho de leitura" na sala. Livros, revistas, gibis, tudo que pudesse ser lido.
Não me lembro mais qual foi meu primeiro Salão do Livro, mas recordo de ter ido ao MAM, à Zona Portuária, e ultimamente, no SulAmérica. Economizava um pouco todo mês para comprar meus livros de literatura infantil. Todas as editoras num só lugar? Isso era um sonho realizado! Faço isso até hoje.
Quando me perguntam: - Você está comprando para a escola? Eu respondo toda orgulhosa: - Não. São para o meu uso em sala com meus alunos.
Isso para mim é motivo de orgulho. Amo literatura infantil! Antes de ser meu "material de trabalho", é o que gosto de ler e estudar.
As escolas públicas do município do Rio de Janeiro possuem um ótimo acervo literário seja pelas compras feitas com as verbas (que deveriam ser bem MAIORES!), seja pelos livros do PNBE (Programa Nacional Biblioteca na Escola) enviados pelo governo federal. Porém, é necessário que estes livros cheguem até às crianças! Especialmente, que o professor LEIA com e para elas. Que inclua em seu planejamento, a leitura de livros literários, não como um mero "preenchimento de tempo", mas como forma de ampliação da experiência leitora de cada ALUNO.
Há livros pelas escolas. Muitos livros. Todos eles esperando serem abertos e "degustados" por pequenos e jovens leitores. Não importa que seja uma leitura compartilhada, leitura de imagens, leitura autônoma. LER É UM ATO DE RESISTÊNCIA.
Se Deus me permitir, estarei no próximo Salão FNLIJ do Livro em 2017.
Enquanto espero, tenho uma bolsa cheia de livros esperando por nós (eu e minhas crianças).
Ivanise Meyer

PS: Corrigi o texto original que escrevi ontem (19/06/16).

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